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FOGÃO A LENHA



NOS TEMPOS DO FOGÃO A LENHA
          Certamente já vimos por aí, alguns restaurantes que anunciam: "comida em fogão a lenha".  Tais anúncios sugerem, que a comida preparada em fogão a lenha é mais saborosa.  Sem dúvida, é verdade.  É um aspecto da culinária que muita gente não conhece com propriedade, porque o fogão a lenha tornou-se uma raridade.  Mas, houve um tempo, que esse tipo de fogão era comum.  Em toda casa havia um fogão a lenha.  Bons tempos que não voltam mais.


          Na minha cidadezinha, lá em Minas Gerais, e certamente em quase todos os lugares, a lenha vinha da roça para a cidade, em lombos de burros.  Os chamados cargueiros.  Três cargueiros, representavam um metro de lenha, ou seja, o metro cúbico.  A lenha era cortada em toras de um metro de comprimento, e depois empilhadas entre escoras nessa mesma medida, formando cubos de 1 x 1 m.  Em seguida os burros cargueiros eram carregados, e a tropa levada para a cidade. 

          Ainda me lembro como se fosse hoje, da minha mãe negociando com o tropeiro, o caboclo da roça, vendedor de lenha:
           - Compra lenha, dona?
          - Não, hoje não, muito obrigado.
          - Ah... Compra sim dona, eu vendo barato...
          - Não, não quero.  Da última vez, você me vendeu uma lenha verde, que não queimava.
          - Não, dona, essa lenha aqui, eu garanto.  Essa queima qui nem pórva (pólvora).
Minha mãe ironizava:
          - Ah, mas se queima que nem pórva, eu também não quero.  Vai queimar muito depressa e 
            acaba logo, ah, ah, ah!
          - Ah, compra, dona.  Essa lenha é boa. É lá da serra dos Lamin.  Eu vim de longe. Eu trusse
            treis metro e só tem dois de resto. Eu faço um precinho camarada.

          Por fim, minha mãe acabava comprando a lenha do sujeito.  De tanto ele insistir e baixar o preço pedido inicialmente:
          - Está bem, por esse preço então eu compro. Pode aliviar os animais do seu peso no lombo.
          - Aonde é que eu pincho (jogo) a lenha?
          - Pincha (joga) aí mesmo na rua, que depois eu mando meu filho recolher pro quintal.
          O grande problema do fogão a lenha, era a fumaça.  As panelas ficavam todas pretas, enfumaçadas. Para limpar as panelas, usava-se areia.  Minha mãe sempre me pedia para buscar areia na beira do rio.  "Prá ariá panela", como se dizia. Também se usava um sabão feito em casa; o sabão de cinza, feito com as cinzas produzidas pelo fogão. 

          Estas e outras, são minhas (ou nossas) lembranças, que aos poucos vão desaparecendo no decurso implacável do tempo que a tudo consume...
   

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