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Grupo Escolar

Presidente Roosevelt

          Eu me lembro com saudade, das minhas professoras do primário, no Grupo Escolar Presidente Roosevelt, em Passa Quatro-MG.
Primeiro, foi a Dª Isaura, no meu 1º ano primário.  No segundo ano, foi a Dª Guiomar; no terceiro ano, foi a Dª Adelaide, e finalmente no quarto ano foi a Dª Marisa, na época, procedente de Belo Horizonte.  Ela veio para Passa Quatro, juntamente com seu marido, que era engenheiro da Estrada de Ferro RMV (Rede Mineira de Viação).  Todas essas professoras, eram grandes mestras, muito dedicadas aos seus alunos.


          A Dª Isaura, nos ensinava as matérias de praxe, como Linguagem (Português), Aritmética (Matemática), e também nos ensinava Religião. A propósito, a minha "Primeira Comunhão" foi realizada nesse primeiro ano primário, e no próprio Grupo Escolar, num evento religioso realizado ao ar livre, no pátio da Escola, organizado pela Diretora que se chamava Dª Carmen.  Guardo uma foto desse evento, onde reconheço muitas pessoas e me recordo de muitos amigos e colegas da época, em  1957.

          Naquela época, em Passa Quatro, haviam muitos alunos, desde crianças da cidade, da área rural e dos bairros mais distantes, e só tínhamos esse Grupo Escolar.  Por esse motivo, havia dois turnos de aulas, sendo de manhã das 7 horas até 11 horas e à tarde de 13 às 16 horas. Os alunos do 1º e 2º ano, estudavam na parte da tarde, e os alunos do 3º e 4º ano, estudavam de manhã.  

          Para o 1º ano, haviam duas turmas em duas salas separadas;  a sala dos que iniciavam o seu curso primário, e a outra sala dos alunos repetentes.  Para essa turma, dos repetentes, a sala era conhecida como "sala do 1º ano adiantado".  Quando eu comecei meu curso primário, eu já sabia ler e escrever, pois eu havia aprendido em casa, desde os meus 5 anos (tendo como professores meus tios Guilherme e Clara Köhn).  Sendo assim, eu comecei entrando direto na "sala do 1º ano adiantado"(dos repetentes), e na minha infantilidade, eu tinha prazer de falar a quem perguntasse, que eu estava no "1º ano adiantado".  Que bobo fui, pois, podiam interpretar que eu era um "repetente".

          Mas, voltando à Dª Isaura, por vezes ela dizia:  -  hoje vamos fazer uma excursão; e saia com seus alunos, todos em forma, dois a dois, em fila, para um passeio fora da escola, num jardim próximo, o Jardim dos Leões, como era chamado.

          Nesse jardim, que era um recanto de lazer, havia muita vegetação, árvores frondosas, bancos de madeira espalhados por entre o jardim, muitas flores e um pequeno lago de águas limpas, plantas aquáticas e peixinhos coloridos, vermelhos, amarelos, brancos.  E a boa professora Dª Isaura, ia explicando às crianças (seus alunos), os nomes das árvores, e das flores:  -  estas flores são as margaridas, as rosas, bocas de leão, etc, etc.

          Terminado o passeio, voltávamos para a sala de aula e a Dª Isaura então, mandava que todos fizessem uma "Composição", ou seja, uma redação sobre o que tinham visto no passeio.  E todos redigiam na quela simplicidade característica das crianças.  A maioria escrevia coisas bem simples, mas havia também composições (redações) interessantes.

          Me lembro também, que em nossa sala de aula, havia uma espécie de painel (tripé de madeira) com várias gravuras grandes que podiam ser visualizadas uma a uma.  Eram gravuras de paisagens diversas: uma fazenda, um rio, montanhas, pessoas, etc.  Em outros momentos, Dª Isaura escolhia uma gravura qualquer, e pedia que os alunos fizessem uma composição sobre aquele tema, ou seja, sobre o que a gravura mostrava.

          Eu me lembro, que a minha redação era mais ou menos assim: " Estou vendo uma menina.  Ela se chama Alvarina (OBS..: eu não sei de onde eu havia tirado esse nome, mas eu o achava bonito. Devo ter visto em algum lugar). Continuando: ... Alvarina tem um cachorrinho. O cachorrinho se chama totó.  Eles moram em uma fazenda. Na fazenda tem galinhas, patos, cavalos e vacas..."

          Bem, eu tinha 7 anos, e assim eu escrevia na minha simplicidade de criança.  As meninas mais espertas e desinibidas, tinham que decorar um pequeno trecho de uma poesia, e recitar na frente da sala, como se fosse um auditório.

       Eu me lembro de uma menina chamada Lucia Caetano.  Ela sabia de cór um recital de uma estorinha infantil, intitulada "Nhá Barbina".  Era uma estorinha um tanto engraçada para a época, que até outras professoras pediam para a Lucia fazer o seu recital em qualquer evento festivo do Grupo Escolar.  E de tanto ouvir essa estorinha, eu também acabei guardando na memória essa estorinha da "Nhá Barbina".  No final deste comentário, vou transcrever essa estorinha completa, para deixa-la registrada.

          Tenho também, uma boa lembrança da Dª Adelaide, minha professora do 3º ano.  A casa dessa professora, era uma extensão da escola, ou seja, do Grupo Escolar;  eu me lembro que de vez em quando, ela organizava reuniões em sua casa, com alguns alunos, para fins de trabalhos escolares, e que depois, tais trabalhos eram levados para a sala de aula, com intuito de incentivar outros alunos.

          Essas reuniões escolares na cada da Dª Adelaide, eram na verdade, uma "aula extra", com os alunos mais aplicados.  Ela tinha prazer em dar aulas.  Ela também ensinava religião, e ensinava que os alunos deviam rezar no inicio e ao término da aula.

          Me recordo também, que eu gostava de desenhar, e quando eu estava no 3º ano, eu ilustrava minhas composições (redações), com algum desenho inspirado em figuras de livros ou revistas.  Bem, a professora manda fazer uma redação.  Tema livre.  Então, eu fiz uma redação sobre uma menina da minha sala, chamada Rosana Perroni.  Não me lembro das palavras que usei na redação, mas acho que eram palavras bem simples.

          Mas, eu fui motivo de risos e de encarnação por parte dos meninos e meninas, porque a professora mostrou para todos da classe a minha redação e o desenho que eu havia feito da nossa coleguinha; uma menina com duas tranças compridas, soltas, amarradas na ponta com uma fitinha de tecido, exatamente como usava nossa coleguinha, a Rosana.  Não sei, mas talvez ela ainda se lembre desse fato até hoje.

          Bem, estas são algumas de minhas lembranças. Tenho muitas. Acho que lembrar é um prazer, e próprio de  quem ainda sente emoções.  Eu seria um homem triste, se não as tivesse. Em seguida, vou contar a estorinha da "Nhá Barbina".  (Vejam a foto das professoras do Grupo escolar)


Grupo Escolar Presidente Roosevelt

RECITAL E MONÓLOGO DA "NHÁ BARBINA" (ENCENADA POR LUCIA CAETANO, DESDE O 1º ANO PRIMARIO)

Eu e a Nhá Barbina, fumo convidado pruma festa.
E a Nhá Barbina, quiria ir. (Obs.- A Lucia dava uma ênfase nesta fala, batendo com um punho fechado na outra mão).
- Mais num vamo, Nhá Barbina.  (Com ênfase na fala)
- Mais eu quero ir... (Lucia, dando de ombros nesta encenação)
- Mais num vamo, Nhá Barbina...
- Mais eu quero ir.
- Então vamo.
Então nóis fumo indo, fumo indo, inté chegar numa lagoa.
E a Nhá Barbina quiria nadar.
- Mais num nada, Nhá Barbina!
- Mais eu quero nadar...
- Mais num nada, Nhá Barbina!
- Mais eu quero nadar...
Então nada.
Quando ela foi pondo o dedão na água, ela gritou: Socorro, socorro, tô me afogando...
Pobre da Nhá Barbina, saiu toda molhada...
Mais intão nóis fumo indo, fumo indo, inté chegá na festa; lá tinha leitão, frango assado, pipoca, tinha inté rojão.
E a Nhá Barbina quiria sortá rojão!
- Mais num sorta, Nhá Barbina!
- Mais eu quero sortá...
- Mais num sorta, Nhá Barbina!
- Mais eu quero sortá...
- Intão sorta. Eu vou te ensiná. Ocê pega o forfi, risca, e quando o rojão fizer Tchssssssss, ocê sorta, ein Nhá Barbina, Ocê sorta, ein Nhá Barbina!
Ela pegou o forfi, riscou, e o rojão fez Tchssssssss - Sorta, Nhá Barbina! Sorta, Nhá Barbina!
- Mais eu num quero sortá...
- Sorta, Nhá Barbina!]
- Mais eu num quero sortá...
De repente o rojão fez...: BUUUUMMMMM!
Pobre da Nhá Barbina, morreu toda queimada.


     

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