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PATO OU GALINHA?

          Sempre fui um funcionário "pato" na vida.  Ou seja, aquele que trabalha, trabalha, apresenta resultados, mas acha que tudo é bastante natural, e nunca alardeia seus feitos como se fosse algo extraordinário.  Alguém já viu um ovo de pato?  Pois é.  Quase ninguém fala do ovo de pato.  Ovo de pato é quase um desconhecido.  


          O mesmo já não acontece com a galinha, porque quando ela "bota" um ovo, sai cacarejando, e de forma tão estridente que todo mundo fica sabendo: - "co-có-ricó, co-có-ri-có, olha aqui, botei um ovo... co-có-ri-có, co-có-ri-có..."  E, na maior das vezes, o seu "ovo" não é lá grande coisa.

          Às vezes, fico a pensar com meus botões; será que estou certo ou errado? Será que eu também deveria fazer como a galinha que "espalha o seu feito aos quatro ventos?"  Há quem considere essa atitude como vantajosa ou até necessária hoje em dia quando se trabalha numa empresa.  Seja como for, acho que prefiro mesmo é ser como sempre fui; modesto, e em paz comigo mesmo.  A propósito, vou contar uma estória (verídica), dentro do tema anserino galináceo. 

          ... Certa vez, quando eu trabalhava no escritório de uma Empresa, meus superiores mandaram uma moça, ou melhor, uma senhora para trabalhar comigo.  Uma verdadeira galinha, no sentido laboral que estamos enfocando.  Mas era tão galinha, que às vezes "ouvia cantar o galo sem saber onde", mas já se apoderava do feito para anuncia-lo como de sua produção. 

          E eu, quase sempre o verdadeiro "dono do ovo", estranhava esta sua atitude, mas permanecia calado. Não ficava com raiva dela não, porque experiente da vida e já velho de casa, eu sabia que ela tinha muito que aprender, e além do mais, "não medram galinhas em casa de raposas".  Na verdade, faltava-lhe uma coisa muito importante: sabedoria.

          Em nossa vida prática, necessitamos de muita sabedoria para sobreviver à luta diária, principalmente trabalhando numa Companhia em meio a !raposas" das mais diferentes espécies. Mas ela era ambiciosa, e não media esforços para sobrepujar-se da maneira que podia. 

          Certa vez, na presença de outros subalternos, e referindo-se a mim, disse: - "o meu coleguinha aqui..."  Ela usou de um diminutivo, não na forma afetiva da palavra, mas de uma forma sutilmente irônica. Pensou que eu não percebi.  Engano seu.  Sua intenção era revestir-se de uma importância, na qual pudesse projetar uma sombra à minha presença. Mas, como bom pato e com sabedoria, fingi que não entendi sua pretensão.

          O que muita gente não percebe, é que nossas atitudes bem como nossas palavras, quando são dirigidas de forma sincera, passam sinceridade às pessoas, e a recíproca também é verdadeira, quando são de falsidade ou ironia. 

          Essa galinha, digo, essa moça, às vezes me tirava do sério, mas eu a tolerava, porque no meu mais profundo interesse, eu também precisava que ela ficasse do meu lado.  Muitas vezes eu tentava ajuda-la, com alguns conselhos de vida.  Como por exemplo, que o amor somado à inteligência, resulta em sabedoria. 

          Que isto, mais que uma regra, é uma lei espiritual regendo a nossa vida.  Funciona como as leis da química, onde dois elementos diferentes corretamente dosados resultam em um terceiro elemento.  Em se tratando de uma lei, não há como fugir ao seu resultado.  Mas não sei se ela conseguia captar o verdadeiro sentido destes conceitos filosóficos que eu lhe passava. 

          Péssima em redação, esta moça nunca teve a humildade de reconhecer o seu ponto fraco, e sempre me pedia ajuda: - "você que tem as palavras certas para o pessoal daqui..."  ou seja, ainda culpava o "pessoal" do escritório por seus hieróglifos ininteligíveis.

          Por vezes, faltava-lhe também habilidade na comunicação oral.  Dependendo do problema que surgia na Empresa, às vezes o assunto lhe caia como um verdadeiro "ovo de Colombo", de tão complicado, e na tentativa de me passar aquilo que lhe preocupara, excedia-se em detalhes que tornavam difícil o entendimento da sua comunicação. 

          Eu pedia para ela repetir, e ela, inspirando um ar de toda poderosa, retrucava: - "Preste atenção, vou repetir"  (como se me dissesse: preste atenção, seu burro, que vou repetir); e falava tudo novamente, cometendo os mesmos excessos verbais.  Eu captava o sentido de suas palavras, e resumia o problema dizendo-lhe apenas: - "O Sr. X nos retransmitiu um Fax e pede que você o responda e lhe submeta à apreciação a sua resposta.  É isto que você quer me dizer?"  - "Sim, é isso mesmo, mas não sei como devo responde-lo..."

          Eu, como sempre, no interesse maior da Empresa, acabava respondendo o Faz:  e para mim, a tarefa de redigir uma resposta a um fax, era "galinha morta", mas para ela era uma oportunidade para que pudesse vangloriar-se da sua "inteligente resposta".  "Trabalha o feio, para o bonito comer".

          Há muito que aprender no transcurso de uma vida, e a Sabedoria Popular já consagrou muitos conselhos, principalmente a todos aqueles funcionários ou funcionárias espalhados por aí, nas Empresas, quer "cantem de galo" ou assumam a sua posição de galinha mesmo. Vale a pena observar:

          "Quando a galinha dorme, a raposa vela";
          "Galinha que muito cisca, acaba na boca da cobra";
         "Ainda que o galo não cante, a manhã sempre rompe";

          Todos estes conselhos sugerem prudência, porque afinal,
          "GALINHA QUE CACAREJOU, BOTOU",
Anserino galináceo



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