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Lingua Portuguesa

Anserino cálamo
          Hoje em dia, qualquer criança em idade escolar, diz tranquilamente que estuda matérias como Português, Matemática (e outras).  Mas, não foi sempre assim, com relação aos nomes das matérias. No meu tempo de escola primária, no Grupo Escolar Presidente Roosevelt, lá em Passa Quatro-MG, eu estudava Linguagem e Aritmética, e havia também um caderno de pontos.  Esses nomes significavam Português, e Matemática, e pontos de História e Ciências. 


          Estudava-se também Religião, como matéria.  Depois, mais adiante, no 3º e 4º ano primário, a matéria "Linguagem" passou a chamar-se "Língua Pátria".  Depois do primário, havia um Curso de Admissão ao Ginásio, que tinha duração de um ano.  Era uma espécie de curso vestibular para admissão ao Ginásio.

          Bem, estas são apenas algumas lembranças nostálgicas. Mas agora, nesta breve reflexão, eu quero apenas realçar algumas questões da nossa querida Língua Portuguesa.

          No Ginásio São Miguel, colégio de padres betharramitas de Passa Quatro, tivemos vários professores de Português, ou da nossa "Língua Pátria" (nome bonito esse).  Mas, uma lembrança marcante, foi a do Padre Joaquim Soares, professor de Português.  Algumas pinceladas de suas aulas merecem ser lembradas:

          1) Uma frase: "passe-me o anserino cálamo e o etiópico licor".  Essa frase, segundo o nosso querido Pe. Joaquim, foi dita por Rui Barbosa (um "crânio" da língua portuguesa).  E o significado na linguagem atual, seria: "passe-me a caneta e a tinta para escrever".  Explicação: na época de Rui Barbosa, escrevia-se com uma caneta feita de pena de ganso, e necessitava de um vidro de tinta para molhar a pena e escrever.  A tinta era importada da Etiópia, e daí, a expressão "Etiópico Licor".  Anserino, vem de ganso, e cálamo significa pena de ganso, ou seja, anserino cálamo, ou caneta de pena de ganso.

          2) Agora, uma estória:  ... ... um homem, aproxima-se de um caudaloso rio, onde está um velho muito humilde, com seu cãozinho e sua canoa, pronta para cruzar o rio à outra margem.  O homem, recém chegado, cheio de si, e com ares de superioridade, fala o seguinte:"Quanto queres, para
me transportar deste polo ao outro extremo?" Mas o velho da canoa não entendeu nada do que aquele arrogante sujeito dissera.  E respondeu simplesmente: - "o cachorrinho não morde não senhor"... e entrou na canoa com seu cãozinho e foi se afastando.  O sujeito arrogante vociferou: - "Oh! Mísero barqueiro, dar-te-ei uma porrada no alto da sinagoga, reduzirei tuas massas cefálicas e o enviarei às regiões cadavéricas"... O canoeiro outra vez nada entendeu do que o sujeito acabara de dizer, e continuou tranquilo a sua travessia do rio.

          Bem, esses dois comentários é só para enfatizar que a nossa língua portuguesa é muito rica, e as expressões usadas pelos personagens citados (Rui Barbosa e o sujeito arrogante), são expressões verdadeiras, apesar de não estarem mais em uso.  Elas existem, e poderão ser usadas, caso se façam necessárias.

          Muitas outras expressões existem, não tão arcaicas talvez, mas modernas, e que a gente às vezes desconhece.  Os advogados são mestres na utilização de palavras muito bem empregadas e bastante expressivas, e também expressões em Latim.

          A propósito, em 2015 o nosso então político Michel Temer mandou uma carta para a Dilma Roussef, iniciando com uma expressão em latim:  "verba volant, scripta manent"  que significa: "As palavras voam, os escritos permanecem".

          Mas, voltando ao Padre Joaquim, certa vez ele mandou que os alunos fizessem uma redação com o tema "Um dia aziago".  Os alunos tiveram que descobrir o significado dessa palavra, "aziago", e fazer a redação.  Eu fiz a minha redação, da qual me lembro até hoje, e descobri naquela época, que "aziago" significava mau agouro, um dia de azar.

          Outra vez, esse mesmo professor, nos deu um texto onde aparecia a expressão "sói acontecer", e naquela época, essa expressão também nos era desconhecida, mas ele nos ensinou que se tratava de  uma expressão muito simples, que quer dizer: "costuma acontecer".  Hoje eu sei, que essa expressão às vezes é utilizada por advogados na redação de seus processos.

          Temos que amar o nosso vernáculo, para que possamos descobrir muitas e muitas palavras e expressões que nos poderão ser úteis.  Amo a língua portuguesa.

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