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PARA RIR, OU CHORAR

          Talvez, alguém ainda se lembre do fato: acho que foi no ano de 1978, quando o Jornal do Brasil trouxe uma pequena matéria intitulada "COBRA EPIGRAFADA".  Naquela época, achei aquele artigo simplesmente hilariante.  Parecia piada, mas o artigo chamava à atenção para uma dura realidade.  Realidade que ainda hoje assola este país em termos de cultura, e de agressão ao vernáculo.  Tive o cuidado de recortar o artigo publicado, e guarda-lo.  Hoje, passados mais de 30 anos, ocupo-me nesta crônica em reproduzir aquilo ue foi publicado pelo JB.  Aqui vai, pois, a sua reprodução exatamente como foi escrito:


          Cobra epigrafada. - Poucos textos ultimamente publicados conseguem ser tão deliciosos e ao mesmo tempo tão dramáticos quanto a página assinada por Eduardo Almeida Reis, no último número da revista Granja.
Depois de se debruçar sobre os relatórios da Carteira Agrícola do Bando do Brasil, Almeida Reis pinçou frases neles contidas e as transcreveu tendo o cuidado de conservar a grafia e estilo dos fiscais do Banco.  São muitas, e aí vão reproduzidas algumas:

- "O sol castigou o mandiocal.  Se não fosse esse gigante astro, as safras seriam de acordo com as chuvas que não vieram".
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- "Mutuário triste e solitário pelo abandono da mulher, não pode produzir".
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- "Acho bom o Banco suspender o negócio do cliente, para não ter aborrecimentos futuros".
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- "Vistoria perigosa.  As chuvas pluviais da região inundaram o percurso que foi todo feito a custo".
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- "Trajeto feito a pé, porque não havia animal por perto.  Despesa grátis".
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- "o contrato permanece na mesma situação da vistoria anterior, isto é, faltando fazer as cercas que ainda não ficaram prontas".
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- "Foi a vistoria feita a lombo de burro com quase 8 quilômetros".
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- "Está vendendo em barraca emprestada de dia e de noite fazendo coisa boba".
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- "A máquina elétrica financiada é toda manual e velha".
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- "Financiado executou o trabalho braçalmente e animalmente".
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- "O gado está gordo e forte mas não é financiado e sim emprestado para fins de vistoria que abri o bico".
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- "O curral todo feito a caprixo.  Bem parecendo um salão de baile a fantasia".
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- "cobra - Comunico que faltei ao expediente do dia 14 em virtude de ter sido mordido pela epigrafada".
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- "Visitamos o açude nos fundos da fazenda e depois de longos e demorados estudos constatamos que o mesmo estava vazio".
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- "Os anexos seguem em separado".
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- "A lavoura nada produziu. Mutuário fugiu montado na garantia subsidiária".
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- "Era uma ribanceira tão ribanceada que se estivesse chovendo e eu andasse a cavalo e o cavalo escorregasse, adeus fiscal".
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- "Tendo em vista que o mutuário adquiriu aparelhagem para processar inseminação artificial, e que um dos touros holandeses morreu, sugerimos que se fizesse o treinamento de uma pessoa para tal função".
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          A bola fica pois, com Almeida Reis, que termina lamentando a tragédia de um país que tem tido sua Agricultura entregue aos leigos de todo gênero, tragédia de confiscos, tabelamentos, alucinação fiscal e fundiária, loucura dos juros, em meio ao Governo de quem falou, um dia, em prioridade para a Agricultura.




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